quarta-feira, 27 de junho de 2012

Ménage à trois sants

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As caravelas partiram para o Brasil, com portugueses e negros, e seus protetores, para apaziguar, acompanharam a caminhada.

Como não foi combinado, Xangô e Santa Isabel, não sabiam desse encontro, cujas testemunhas vivas e cegas, eram incapazes de perceber.




Xangô,deixou sob tutela de Obaluae, uma parte de seus poderes de raios de trovões, para não deixar sua África desprotegida e nem sua própria mulher, o liberou para outros orixás, mas resolveu acompanhar em viagem seus filhos roubados, cientes que eles poderiam não voltar, já dizia o destino aos seus ouvidos, que um dia, sua raça precisaria expandir a os outros continentes e assim foi, deixando lá provisoriamente, todas as mulheres que ele jamais esqueceria.

Para a sua surpresa, ao procurar um canto pra se acomdar durante as noites na caravela, se depara com uma mulher, inciando a colocação do seu manto, ele viu suas curvas desde a base do violão até o iniciar dos cabelos cor de mel. Ela olhou para trás assustada, e gritando.

-Vocé é o primeiro que vê o meu corpo! Como se atreve!

-Quem é você? Rainha Iemanjá empalidecida? Disfaçada? Por que veio atrás de mim.Vejo que não...suas ancas não bem menores do que a dela, quem é você?

-Auto lá, eu sou rainha sim, Rainha Santa Isabel de Aragão. Eu vim acompanhar meus filhos, para que eles não sofram de escorbuto ou de cólera.

-Proteger? Não acharia mais sensato evitar que eles roubassem o meu povo como se fossem animais escravos, ou que parassem de usar minhas filhas tal qual homens famintos matam suas fomes com cabras?

-Seu povo? Por mim e Jesus, serão muito bem cuidados, assim como todos aqueles que encontrarmos nessa terra. Imagine, acha que queremos que fiquem desprotegidos como você, sem moral alguma, crendo que tem o poder sobre os trovões, e que com seu machado a tudo pode cortar...Seus corpos nus propiciam o pecado e torna impossível a salvação.

A porta da cabine em que eles estavam, se trancou, e nem seus poderes santos, conseguiram abrir, estava emperrada. Deuses não se alimentam, portanto não passaram fome, mas foram obrigados a conviver.

Mas foi Santa Isabel quem começou a engordar seus olhos, em uma noite de calor, dormia Xangô relaxado,recostado, nem totalmente de lado, nem totalmente de barriga pra cima.

A maioria dos adornos ele havia retirado, deixou apenas a saia, que subiu como bandeira em um mastro, com o seu mexer de pernas...e o suor, o fazia parecer chocolate derrendo. Chegando a dar uma certa água na boca em Santa Isabel.

Ao menos ela preferia crer, que era esta texutra que estava provocando esse aguar, e não o tal mastro que levantava a saia vermelha, do seu companheiro de cela.

Ela tentava não olhar, mas conter o suor independia de sua vontade, e ela suou, suou por demais, tanto que imagens surgiam a sua frente, sem com que ela tivesse controle sobre elas. Saltavam imagens de mulheres encarceiradas, presas pelos braços e com seu corpo com marcas de chicotadas...ela tentava fugir, mas as imagens voltavam.Ela visitou algumas masmorras, tentando afligir o sofrimento, de algumas mulheres que, segundo ela mesma acreditava, deveriam ser queimadas. Sabia também que ninguém ali estaria salvo da fogueira, muitas noites viu padres chegarem com suas batinas, adentrarem nessas celas, e jurar para suas prisioneiras, que elas mereciam ser profanadas por Deus, e isso lhes traria liberdade. Lhe bastava levantar a batina, e já estava ali, rígida a espada e a cruz, para santificar aquelas criaturas do diabo. Eles, opostos conscientes de pecadores, eram comandados pelos seus bichos presos em armadilhas, que ao se soltar, comiam fêmeas como se fossem leões.

Então Santa Isabel temeu...temeu ser invadida por uma espada, mesmo tendo a certeza de não ser merecedora de penitências. Temente a Deus que sempre foi, voltou sua razão em direção a fé, e orou, 10 Pais nossos e 10 ave Marias, e se sentiu protegida pela sua áura de santa.

Mas a espada de Xangô se impõe em situações de perigo, e não abre a guarda. Então, enquanto a aura de Santa Isabel a protegia, a espada de Xangô se mantinha em prumo, intuindo ser atacado.

Ele deu um leve tremular no corpo, que se estendeu a todas as extremidades, então Santa Isabel, de medo, susto, ou prazer...Deu um grito.

Quando ele abriu os olhos, e viu aquela mulher sem cores, mas com os olhos vermelhos e arroxeados, ouviu-lhe o coração.

-Eu ouço tambores, e com eles eu acordo, eu sei de onde eles vem, eu entendo o que eles falam.

-Não faça isso pobre Xangô, vai te doer ler as lástimas do meu coração, ele bate pelos pobres e desenganados, para poder amenizar seus sofrimentos.

-Não queres, não vou dizer, mas eu vi seus sonhos...e essas mulheres que assistiu serem invadidas, viveram mais do que era para viver, pois apesar de terem tido sua humanidade humilhada, receberam analgésicos de sua natureza animal.

-Analgésicos? Você chama o deflorar não autorizado de analgésico?

-Nesse caso sim. Suas mentes estavam sujeitas a loucura, perdidas entre o que era de Deus ou do Diabo. Ali acorrentadas, elas já compreendiam que aquela penitência não era de Deus...os momentos em que aqueles monstros entravam em contato com suas peles prisioneiras, era o único momento em que constatavam a existência de um Deus.

-Eu prefiro costurar minha boca, a ficar conversando com você essas barbaridades.

-Sim senhora Santa Isabel, costure outras partes suas que a estão delatando.

Conversaram na medida do possível durante a viagem, brigaram algumas vezes, outras mudaram de opinião, entraram até certo ponto, em um possível, pelo ou menos o mais possível equilibrio de idéias.

E a caravela chegou.

Todos os mortais realizaram de novo, dentro do possível, suas aproximações, sempre através de placebos, enganações e rituais de troca que auxiliariam um mundo a compreender, ou a penetar no outro.

Mas...saindo juntos da caravela, Xangô estendendo suas mãos para auxiliar Santa Isabel, desceram da embarcação, e um tapede azul como as águás, foi estendido, lhes abrindo passagem.

O tapete andava, sempre há cerca de 2 metros a frente de onde eles se encontravam, em retas e curvas, ele os conduziu ao centro da mata.

Ao final da mata, havia um trono, de madeira crua, repleta de conchas e aves coloridas pousadas. Sentada neste trono, estava uma mulher, cuja etnia para eles, era novidade: morena, com corpo pintado principalmente de vermelho, cordões de sementes, penas formando coroas aladas, seios desnudos...

-Eu sou rainha da mata virgem, meu nome é Jurema.

Santa Isabel pronuncia: Você sabia que chegaríamos?

-Sabia, vocês não foram avisados?

-De quê? Perguntou Xangô?

-Que o futuro depende de nós. (Respondeu Jurema)

-Se explique melhor...

Os filhos do criador, se dividiram por toda a terra, e não tem mais afinidade nem com suas origens, nem de um para o outro, então, nós três, deuses representantes destes povos, temos o dever de aproximá-los.

-E como faremos isso...Pergunta Santa Isabel.

-Nos casaremos.

-Pobre de ti Jurema, irá se casar com Xangô...

-Não Isabel, casaremos os três.

Santa Isabel desmaiou ao crer que estava em algum limbo...

Foi acordada por duas araras bicando seus pés, e uma onça lambendo seu rosto. E ao acordar, já viu, Jurema de cócoras, não a parir...mas a copular para fazer nascer. Xangô estava por trás e Jurema abraçava o famoso pau-brasil.

-Mas o que é isso!Mesmo as cenas que eu tive de presenciar, pois foram momentos em que novos santos estavam sendo concebidos, eu vi uma coisa dessas! Isso é uma profanação! As mulheres devem permanecer por baixo, e praticamente catalépticas.

-Ainda sem terminar o ato, Jurema olha pra ela, resfolegando e conversando...e diz:

-Por que isso Isabel, você aprecia o nascimento, mas não aprecia a sua elaboração? Venha cá conosco, que nós lhe mostraremos.

Mais uma vez, santa Isabel suou frio...mas ela estava em um lugar mágico, onde as forças que o comandavam, eram para ela desconhecidas.

Como que hipnotizada, e incentivada pelo calor insuportável, foi tirando suas roupas em um ato, quase histérico.

Araras, Papagaios, tucanos, várias aves, a levantaram pelo braço, enquanto algumas rasgavam o seu hábito, a fizeram montar em uma onça, e essa onça, foi ao encontro de Xangô e Jurema.

Santa Isabel, nunca viveu nenhum entorpecimento, não sabia o que era, e por consequência, como evitar.

Quando deu por si, estava frente a frente a Xangô, enquanto Jurema a contornou, parando por trás dela, soltando seus cabelos, e passando urucum em suas ancas.

Ela passava urucum em suas ancas, empurrando e puxando, girando e massageando.

Santa Isabel não largava o seu terço de madeira escura...mas largou...tentando procurar, encontrou outro tronco negro...esse sim, entrou em sua vida e ela gritou proferindo diversas orações santas misturadas com palavrões que nem ela mesma sabia que existia...desfaleceu, acordou esquecida, dizendo: Eu vi uma luz, eu vi Deus!

Xangô e Jurema a olharam sorrindo e disseram:

Viu sim, em nossas barrigas, estamos gerando e parindo, e vamos povoar essa terra, juntando aqui filhos de todas as cores: brancos, amarelos, negros, mulatos, ruivos, ateus, crentes, católicos, judeus, espíritas...em algum lugar nasceram os filhos de Adão e Eva. Daqui foram expulsos, os trago aqui de volta, para onde a maçã é só um detalhe, escondido entre bananeiras, coqueiros, mangueiras...pois onde brotou a mistura, o pecado...pobre pecado...desfaleceu...estamos aqui para ele acordar.




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