terça-feira, 27 de novembro de 2012

O Desejo e a Necessidade


Hoje é um dos dias em que meu "Desejo" é um homem bem forte! Minha "Necessidade" amanheceu uma mulher raquítica...ela sem sombra de dúvidas é responsável e está tentando olhar pro calendário, listar suas programações, mas...o infeliz do Desejo hoje pela manhã, pisou nos óculos desta escrava e jogou os estilhaços no lixo.

A pobre Necessidade está perambulando pelos cômodos da minha casa, no desespero de mesmo cega, cumprir suas funções: Seguir a agenda de trabalhos, varrer a casa, não queimar a comida...

Mas o maquiavélico do Desejo acabou de driblar essa encarquilhada da Necessidade, olhou pra mim com seus olhos mouros de sobrancelhas grossas e semi cerradas sussurrando de canto de boca: Hoje quem manda sou eu! Ele acabou de pegar a infeliz, acorrentar e trancar em uma cela...me grita nesse minuto: Escreve com calma querida, você hoje é só minha...

Então tá né, estou escrevendo...olhando pra ele...fazer o que, a Necessidade dentro da cela chega a estar virando uma mulher voluptuosa ao fitar o homem Desejo.

Nossa...os cabelos dela cresceram! Suas ancas se expandiram e sua pele uva passa, se hidratou novamente...ela conseguiu soltar as suas amarras, se aproximou das grades da cela, onde o Desejo se encontra de costas pra ela, e de frente pra mim enquanto escrevo...que cena que eu estou vendo...

...A Necessidade esquálida virou uma meretriz, está tentando nesse exato momento, fazer o Desejo parar de me fitar...enquanto ela finca suas unhas entre as coxas desse homem e lança sua língua em seus ouvidos...é pra mim que ele olha, é pra minha direção que sua flecha aponta.

Puta que pariu...a minutos eu queria escrever algo tão trivial, cotidiano, quem sabe melancólico...queimei o arroz! Foda-se o arroz...a fumaça escondeu a realidade a minha volta e está entre mim, e essas pessoas de roupas poucas e pretas...unhas vermelhas, correntes e cordas, suores e uma perda de sangue que não chega a ser comprometedora.

Ela sussurrou no ouvido do seu carrasco: Me solta...Mas o Desejo é esperto...acabou de me gritar -Joga um espelho pra mim! 

-Toma! Pegou...Olhou através dele pra essa mulher, e pelo espelho ela continua raquítica, cega, com ares de sifilítica, maldosa como as serpentes sob sua cabeça.

O Desejo bradou :-Não vamos olhar pra você...chora maldita Necessidade!! Hoje eu e ela só vamos gemer..

Com licença, o Desejo me chama, e eu já acabei de escrever...

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