domingo, 11 de novembro de 2012

Quem tem medo do Lobo Mau




Inicialmente, eu não notara seus tremores ao sentir meu perfume.
Eu sequer estive preocupada em seduzi-lo, juro.

Acordar, escovar os dentes, vestir minha capa, estudar, algumas conversas, alguns olhares desviados, estudar, ir para casa, almoçar, estudar, tomar banho, dormir...

Menina, não fale com estranhos, menina, siga seu caminho, menina, não se arrisque na floresta e acima de tudo, cuidado com o Lobo Mau.

Minha rotina era demasiadamente simples, simplista até.
Eu sempre fui uma menina obediente. Submissa, talvez?
O fato é que eu não me importava ou sequer percebia que os dias se passavam, enquanto eu fazia tudo exatamente igual. Mesmo caminho, as mesmas cores monótonas, uma vida repetitiva, organizada, chata.


Pedaços de carne rosada, alinhados em suas carteiras, concentrados na voz melodiosa e tranquila de uma fera culta e sagaz.
Pedaços de carne pulsante, suculentos, sorridentes.
E a fera de pelos eriçados, rugindo para nós, nos mantendo em respeitosa distância.

E então, naquele dia, a fera ousou romper seus limites.
Pobre menina que jamais havia percebido o perigo que a rondava.

Naquele dia, a fera aproximou-se de mim e eu olhei para dentro dela. Umedeceu seus lábios, sorriu com os olhos e fingiu indiferença. Sentou ao meu lado e digitou em fonte número 5 "eu quero você".

E eu sequer pude controlar o calor que tomou conta das minhas pernas e me encharcou a calcinha. Não era possível que eu estivesse tão próxima das garras da fera. Não era possível que eu desejasse tanto estar exatamente assim.

Dedilhei alguns versos em minha mente torpe, desejei entregar-me e ser devorada pela fera. Os pedaços de carne, ao meu redor, não notaram, eu havia sido o prato escolhido dentre tantas delícias macias.

E no alto dos meus 18 anos, respondi, também em fonte 5, "dispense todos, vou enrolar e ficar na sala" - (Professor, pode por favor tirar uma dúvida aqui? Não consigo encontrar a ferramenta de sombreamento...) - dissimulada e dócil, uma perfeita cadelinha.

Percebi seus lábios, entreabertos na pronúncia delicada do meu nome, o hálito doce de cada palavra que escondia outras palavras, a eletricidade fluindo pela minha pele e eu só queria que o sinal tocasse logo, para eu acariciar o lobo, mas, enquanto isto não acontecia, eu explodia por dentro e mantinha meu rosto pálido e sereno,  em oposição absoluta ao que sentia, tentando lembrar como eu era há um minuto atrás, antes de desejar ser a refeição da fera.

Tocou!

Silenciosamente, arrastando cada movimento, pacientemente esperei que o restante da classe cruzasse as porteiras, deixando-nos a sós. Caminhei, como se também tivesse me decidido por ir embora, parei, encarei a fera e fechei a porta.

Ele cheirou meu pescoço e me lambeu o rosto, ele mordiscou minha boca e lutou com minha língua, ele agarrou meu corpo e expôs minha pele, ele me deitou com o rosto na mesa e então me devorou.
- Que pensamentos afiados você tem, que língua macia você tem e esse pinto tão grande, Lobo Mau?
- É para te comer melhor.




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